domingo, 28 de março de 2021

#7. BEALE STREET BLUES


Podia ser grande a dificuldade em escolher apenas uma faixa num disco todo ele excelente -- dificuldade com que me depararei muitas vezes, felizmente. Li algures tratar-se do melhor disco de Armstrong na década de 1950; que é extraordinário, basta ouvi-lo quem não for surdo. O próprio George Avakian, ciente do que ajudara a produzir, termina desta forma as liner notes: «The way I feel about this record, can be summed up this way: When I die, I want people to say: "That's the guy that if it hadn't been for him and Louis Armstrong and W. C. Handy, there wouldn't have been that great record, 'Louis Armstrong Plays W. C. Handy'."».

Em Dezembro de 2005 (vais fazer dezasseis anos...) escrevi este post  a propósito de Louis Armstrong Plays W. C. Handy (1954), um dos meus discos de eleição:

 «Nunca morrer sem ouvir e re-ouvir, muitas vezes, o álbum Louis Armstrong Plays W. C. Handy -- qualquer coisa como o pai do jazz a homenagear e tocar o pai dos blues, músicas que nenhum deles propriamente inventou mas que contribuíram decisivamente para fixar e standardizar. Handy (1873-1958) foi também uma espécie de etnomusicólogo, recolhendo e anotando uma série de temas que músicos anónimos negros iam tocando itinerantemente pelo sul dos Estados Unidos, à guitarra e ao banjo, e por vezes ao piano, durante o século XIX e princípios do XX. Este disco é uma jóia, e claro que lá estão aquelas que Eric Hobsbawn (também um grande crítico de jazz) considerou como algumas das melhores composições de Handy: «St. Louis Blues», «Memphis Blues», «Yellow Dog Blues» e «Beale Street Blues», datadas de 1912-16. Armstrong (trompete e voz) está soberbo, acompanhado por Velma Middleton (voz), Trummy Young (trombone), Barney Bigard (clarinete), Billy Kyle (piano), Arvell Shaw (contrabaixo) e Barrett Deems (bateria). Nas preciosas notas da contracapa, George Avakian dá-nos este testemunho do «pai dos blues»: «"I never thought I'd hear my blues like this." W. C. Handy said again and again. "Truly wonderful! Truly wonderful! Nobody could have done it but my boy Louis!"» [CBS, 1954]

E a faixa que escolho é a sétima, Beale Street Blues.  Beale Street, nas margens do Mississípi, em Memphis, onde tudo se passa, lícito e principalmente ilícito. Composta por Handy em 1916, fala-nos, nostálgica, do bruaá e da urgência da vida. Nenhum lugar trocaria o sujeito poético por aquele sítio de boa e má frequência, fremente de vida, até os taipais fecharem por morte de homem.

Satchmo, cantor extraordinário, dá-nos essa melancolia dos dias passados com tanta graciosidade... Nos solos, sempre fortíssima a trompete, com fraseado e comentários por clarinete e trombone.

Referências:

George Avakian: «[...] Louis sings and plays this 1916 classic to a fare-thee-well; this is one of the great blues of our time, and Louis gives it it's most memarable performance.» liner notes





sábado, 13 de março de 2021

#5.«TOO CLOSE FOR COMFORT




#5. LOVE ME OR LEAVE ME




#5. LONG GONE




#5. BLUE 7


 Blue 7. De Sonny Rollins (Nova Iorque, 7 de Setembro de 1930), faixa 5 de Saxophone Colossus (1956).

Sonny Rollins, sax tenor; Tommy Flanagan, piano; Doug Watkins, contrabaixo; Max Roach, bateria. 

Uma improvisação com tudo: o swing do contrabaixo a abrir, logo acompanhado pelos pratos da bateria -- do princípio ao fim. Os comentários aos solos de Rollins por Flannagan e Roach (tão grande que ele é) são para mim uma das volúpias de Blue 7.  John Fordham escreve que se trata de um dos grande momentos de sempre do jazz gravado. Ainda os solos do sax tenor, deixo para os especialistas aquí em baixo, não sem antes notar os ecos de Charlie Parker, cujo sax era outro, o alto. Ouvir aqui.

Referências: 

Blue 7

Ira Gilter (1956): «Doug Watkins and Max Roach set the solid, medium down groove for Blue 7, a minor blues of power with solos by all. Sonny has several statements of meaning separated by others' solo efforts. Max's fantastic polyrhythms and intelligent construction of ideas make his solo one of his best on record.» liner notes

John Fordham (1991): »[...] is the prolonged improvisation on the bleak, mid-tempo "Blue Seven", an assembly of brooding, stacatto variations that Rollins' control of shape and musical intelligence turns into one of the greatest episodes of recorded jazz.» The Essential Guide to Jazz on CD, Londres, Greenwich Editions, 1995

Raul Vaz Bernardo (1993) refere-se a Saxophone Colossus como «um dos grandes discos de jazz» e Blue Seven [...] cont[endo] alguns dos solos mais inspirados da história» desta música. «Facilidade e invenção», Expresso, Lisboa, 9 de Outubro.

Sonny Rollins 

André Francis (1982): «[Rollins] impôs seu toque maciço tirado de Coleman Hawkins, ao mesmo tempo que gozava da herança parkeriana tomando de Lester Young um pouco de sua fantasia em relação às barras de compasso.» Jazz, 2.ª ed., São Paulo Martins Fontes, 2000.

Carlos Martins (2005): «Era uma continuação de Parker no sax tenor.» «O saxofone como metáfora», Let's Jazz em Público # 27, Porto, Público. 

José Duarte (2005): «um histórico improvisador-compositor este Senhor Rollins / senso melódico e rítmico muito -- como poucos - desenvolvido».  Liner notes sobre «Decision» (1956/57).





#5. BUDO




#7. HAPPY-GO-LUCKY LOCAL